Linhagem Mestres

LEGADO / MESTRES ANTIGOS

LINHAGEM DO GRUPO DE CAPOEIRA LIBERDADE

MESTRE ÍNDIO – MESTRE PELÉ DA BOMBA – MESTRE BUGALHO – MESTRE WALDEMAR

HISTÓRIA

1. Mestre Índio

Manoel Olímpio de Souza
Grupo: Oxossi
Pais: Brasil
Cidade: Salvador, Bahia
Data de Nascimento: 1955
Origem/Linhagem: Mestre Pelé da Bomba Mestre Pelé da Bomba formou Mestre Índio dizendo: Pode ir para o mundo você é Mestre de Capeoira

Mestre Indio fundou o grupo Oxossi em 1969

Natural de Salvador, Bahia, Mestre Índio começou a Capoeira quando era um menino nas ruas de Salvador. Em 1969 e 1970, foi convidado para realizar shows em uma boate no Rio Grande do Sul. A proprietária da boate Dragão Verde, Marion Croaré , impressionada com sua apresentação, o contratou. Neste período, viajou por diversas cidades gaúchas impressionando o público com seus espetáculos de Capoeira. Depois, passou alguns anos fora do RS. Em 1974, retornou a Porto Alegre e começou a dar aulas no Clube Petrópolis, de onde saiu a primeira leva de alunos. Ao longo dos anos, Mestre Índio foi responsável por formar um grande número de mestres de capoeira no Brasil e ao redor do mundo.

Eu consegui sobreviver, porque acho que o gaúcho gosta muito de luta e eu ensinava capoeira como luta, não ensinava capoeira como jogo, capoeira de rua, luta. (Mestre Índio)

Informações adicionais:

  • Em 74, um dia, tinha um rapaz que era empresário, chamava Garrado, encantado com o espetáculo que eu fazia, perguntou se eu dava aula paro o filho dele. Bom, dar aula não é o caso, eu quero saber aonde. Ele disse, sou sócio do Clube Petrópolis e arrumo uma sala lá do clube para você dar aula, tá eu vou, mas não vou dar aula para um só. (Mestre Índio)
  • Quando Mestre Índio inicia as aulas no Petrópolis Tênis Clube, já havia em Porto Alegre, dois trabalhos de capoeira acontecendo, o de Cal Henri Xavier e o de Vadinho.
  • Fui procurar um lugar, onde diziam que tinha capoeira em Porto Alegre, cheguei lá encontrei quem? Um neguinho com um gorro vermelho, era o neguinho Churrasco, deste tamainho, parecia um anzol, magro que só ele. Aí eu cheguei lá e eles estavam fazendo um maracatu, porque aquilo não era capoeira, porque nem Cal, nem Vadinho foram capoeiristas, mas eles levavam o nome da capoeira. (Mestre Índio)
  • Quando o Mestre índio retornou para Porto Alegre, Mestre Monsueto já havia saído da Kidokan e estava dando aula na Budokan, mas deu um problema com o dono e ele estava indo embora para Santa Catarina e passa o local para o Mestre Índio, que logo também sai da Budokan e abre a sua própria academia na galeria, ao lado da Galeria do Rosário, tinha um salão próprio, e era cheio. (Mestre Índio, 05/04/2019).
  • As rodas começaram no Parcão, depois Mestre Índio fez a primeira roda no Brique da Redenção e Monsueto iniciou as rodas no Parque da Marinha.
  • Mestre Índio deu Aula no Ipa, no Clube Petrópolis, na Mudança, etc.
  • Tinha muito aluno, cheguei a dar aula aqui para 200 alunos naquele tempo, nem viajar eu queria mais. (Mestre Índio)
  • Mestre Índio faz parte da primeira geração que formou a capoeira de Porto Alegre.
  • Marion Croaré Amarante, fundou a boate Gruta Azul e, antes dela, a Caverna, na avenida Farrapos, e o Dragão Verde, na avenida Júlio de Castilhos, Centro de Porto Alegre.

Fontes: Projeto Garimpando Memórias depoimento Mestre Monsueto/2011 – depoimento Mestre Churrascco As matrizes, o inicio e o desenvolvimento da Capoeira em Porto Alegre nos anos 70 – Mário Augusto da Rosa Dutra

Manoel Olímpio de Souza, mais conhecido por Mestre Índio do Mercado Modelo, baiano, discípulo de Mestre Pelé da Bomba e fundador do grupo de Capoeira Oxóssi, chegou a Porto Alegre no início dos anos 70 e é considerado é uma das matrizes precursoras da Capoeira gaúcha. Neste vídeo o Mestre, nos conta um pouco da sua história na Capoeira e como foi sua chegada ao Rio Grande do Sul e os desafios enfrentados para difundir a cultura da capoeira afro-brasileira no Sul do Brasil. Fonte: Ponto de Cultura Africanamente.

Mestre Índio e os Filhos de Oxossi no Documentário Templo da Capoeira.

Musica 1º cd do grupo conquistador da liberdade- Grupo Oxossi

HISTÓRIA

2. Mestre Pelé da Bomba

Natalício Neves da Silva
Grupo: Associação Brasileira de Capoeira Angola
Graduação: Mestre
Natural de Cipuá, no Recôncavo Baiano, Salvador/Bahia
Data nascimento: 1934
Iniciou Capoeira aos 12 anos
Linhagem: Mestre Bugalho

«Eu estou no mundo da Capoeira desde 1945 praticando, eu nasci em 1934, em 1946 comecei a aprender a Capoeira com o finado Bugalho na rampa da Mercado Modelo [..]

[..] eu vivia ali na rampa do Mercado Modelo, quando eu vim eu trabalhava numa barraca daquela finada Senhora, e ela é mãe de santo e aí eu vi o finado tocar o berimbau quando eu voltei eu vi o som bonito que na época ele tocava era um berra boi, depois ele passou para um violinha e aí eu vi tocando e como ele tocava aquele bem, Sr Bugalho ele tinha um olho, muito grande, e eu via os movimento dos outros nas festas de largo, aí continuei jogando a capoeira.

[..] ele orientou foi tocar o berimbau né, o que ele orientou, disse olha ta vendo ali como tá aquele jogo, faça o mesmo movimento e aí você ficava sempre olhando!»

(Mestre Pelé da Bomba)

MESTRE PELÉ DA BOMBA I CAPOEIRA E SUA HISTÓRIA I Associação Brasileira de Capoeira Angola fundada em 1987 – entrevista 2022. Fonte: Mestre Marco António Museu da Capoeira.

Mestre Pelé da Bomba – conhecido nas Rodas de Capoeira como Gogó de Ouro da Bahia, devido a sua voz marcante e suas músicas de Capoeira que nos ligam aos tempos antigos da vadiação. Nessa segunda parte da entrevista o Mestre fala da sua história de Capoeira, de sua linhagem da capoeira angola, dos seus contemporâneos da capoeiragem, da fundação da ABCA. Fonte: Mestre Marco António Museu da Capoeira

O Mestre Pelé da Bomba é muito conhecido na Bahia pela expressão “Gogó de Ouro”, sinônimo de boa voz e de afinação. Num universo de opiniões tão divergentes como o da Capoeira, Mestre Pelé está entre os poucos que recebem, com unanimidade, este título.
Mestre PeIé nasceu em 1934. E do tempo em que se jogava capoeira nos finais de feira e nos dias de festa. Também fez parte de uma geração dividida entre a marginalizada Capoeira de rua e a Capoeira institucionalizada nas academias.

Primeira roda — Na infância, Pelé ajudou o pai na luta pela sobrevivência. Fazia carvão, colhia mandioca e tratava a terra. Depois, vendia as mercadorias na capital baiana. Foi assim que chegou à rampa do Mercado Modelo, próxima igreja Nossa Senhora da Conceição da Praia, onde encontrou a nata da Capoeira.

“Conheci a Capoeira aos 12 anos de idade, quando ia às feiras e às festas populares do recôncavo baiano. Eu ia com meu pai a Muritiba, São Félix e Cachoeira vender carvão. No final do dia, chegavam os ‘senhores’ de toda a região e começavam a brincar para se divertir. Era o povo que dava para o capoeirista o título de mestre, que disputava o título ali no jogo, jogo duro”, lembra. Foi numa dessas rodas que Pelé diz ter conhecido o lendário Besouro Mangangá. E confirma a lenda: “Ele sumia quando queria”.

Mestres Lendários — Para o Mestre, era entre a Igreja da Conceição e a rampa do Mercado que rolavam as melhores rodas de Capoeira da época. Em sua memória estão personagens como Valdemar da Liberdade, Caiçara, Zacarias, Traira, Angolinha, Avani, Bel e DeI (irmãos), Onça Preta, Sete Mola, Cabelo Bom e Bom Cabelo (gêmeos) e Bugalho, que o teria encantado com sua agilidade. “Tinha muita gente importante, naquela época, além de Bimba e Pastinha. Os alunos deles não jogavam muito na rua. Eles evitavam por causa das brigas, não queriam ficar difamados. O pau quebrava e a policia na cavalaria vivia ‘escarreirando’ os capoeiras, acabando com as rodas. Os capoeiristas, por sua vez, quebravam a polícia no cacete. Bimba e Pastinha queriam evoluir, acabar com essa imagem do capoeira”.

Capoeira de Rua — O aprendizado da maioria dos capoeiristas dessa época era mesmo nas grandes rodas na rampa do Mercado Modelo e nas chamadas festas de largo, que começavam na festa de Nossa Senhora da Conceição da Praia – coração da cidade baixa, próxima ao elevador Lacerda — no dia 1º de dezembro e se prolongavam até o dia 8 do mesmo mês. Depois, vinha a festa de Santa Luzia, freqüentada pelos estivadores (trabalhadores do cais do porto), muitos deles, capoeiristas. “Era o dia todo: banho de mar, Samba de Roda, Samba de Viola que era uma tradição. Todos os ritmos vindos do recôncavo baiano. Nestas festas, reuniam-se os melhores mestres de Capoeira e os melhores locadores de berimbau. Foi num desses momentos que comecei a cantar e a tocar”, relembra. Foi Bugalho, carregador de embarcações que, nas horas de descanso e nas noites de lua-cheia, ensinou o menino Natalício a gingar nas areia da praia da Preguiça. “Segui a tradição do meu Mestre, Bugalho, um grande tocador de berimbau. Ele era um dos melhores, tocava muito bem o São Bento Grande, principalmente quando era noite de lua. Sentávamos na areia da praia e, quando ele tocava, era possível ouvi-lo na cidade alta”

Rodas da Liberdade — Além das rodas da Liberdade nas tardes de domingo, em que o guarda civil Zacarias Boa Morte “tomava conta”, Pelé mostrava sua arte nas rodas de Valdemar da Liberdade, num galpão de palha de dendê, cercado de bambu. “Eu era ligeiro, tinha um sapateado que ajudava muito. Eles não me pagavam. E, quando eu chegava nas rodas da invasão do Corta Braço, no bairro de Pero Vaz, Mestre Valdemar dizia: Lá vem Satanás!”
Experiência — Durante 25 anos Pelé deu aulas de Capoeira e, também, no V Batalhão da Policia Militar. “Naquele tempo, era comum a polícia treinar Capoeira”. Além dessas atividades, Mestre Pelé participou, ao mesmo tempo, de importantes grupos folclóricos da Bahia como o Viva Bahia. Fez apresentações com o grupo de Mestre Canjiquinha, no Belvedere da Praça da Sé, shows para turistas, onde mostrava a Capoeira, o Maculelê, a Puxada de Rede e o Samba de Roda. Sorrindo muito, Pelé explica que:

“Na Capoeira, tudo sai da ginga. A ginga, o molejo e a flexibilidade são importantes para o capoeirista, tanto para defesa quanto para o ataque”.

Capoeira nas Academias — Com o passar do tempo, a Capoeira começou a ser institucionalizada e a ser ensinada em academias. Mestre Pelé também se adaptou a essa mudança e passou a ensinar nas academias, mas sempre com o objetivo de preservar a tradição e a essência da Capoeira de Rua. Ele acreditava que era importante evoluir e se adaptar às novas realidades, mas sem perder o que era mais importante na Capoeira: A liberdade e a expressão da Cultura Negra.

Mestre Pelé ficou longe da Capoeira por vinte anos. Foi trazido de volta às rodas pelo projeto de resgate e valorização de mestres antigos, criado pela Associação Brasileira de Capoeira Angola (ABCA). Hoje, ele integra o Conselho de Mestres da associação e participa de eventos importantes. Recentemente, emocionou, com sua voz, quem esteve presente no enterro dos mestres Caiçara, Bom Cabrito e Zacarias Boa Morte, e na missa de sétimo dia de Caiçara.
capoeiramalungo.hpg.ig.com.br

Mestre Bugalho 1955 – Cenas de Mestre Bugalho displicentemente jogando capoeira na beira do cais, retiradas de Um dia na rampa

HISTÓRIA

3. Mestre Bugalho

Edmundo Joaquim
País: Brasil
Cidade: Salvador
Data de Nascimento: sem informações
Origem/ Linhagem: Mestre Waldemar

Edmundo Joaquim conhecido no mundo da capoeiragem como Mestre Bugalho. O apelido Bugalho está ligado ao tamanho dos seus olhos, segundo os capoeiristas do seu tempo, os mesmos pareciam dois bugalhos. Era figura presente nas rodas do barracão do Mestre Valdemar, na região do Corta Braço, atual Avenida Peixe, próximo à antiga estrada dos Boiadeiros, atual bairro da Liberdade. Era figura sempre presente também na rampa do antigo Mercado Modelo, e nas festas de largo da cidade.

O mestre Bugalho, foi um carregador de embarcações na cidade de Salvador por volta das primeiras décadas do século XX, dizem que foi um dos maiores tocadores de berimbau da antiga Bahia, e também era Mestre na arte de cantar. Por conta da longa jornada de trabalho que tinha durante o dia, o Mestre Bugalho vadiava nas horas de descanso sempre nas noites de lua-cheia na praia da Preguiça, eram nessas noites enluaradas, tendo o mar como cenário, que o seu berimbau e o seu canto ecoava na cidade de Salvador.

Foi numa dessas noites de lua que o mesmo conheceu o menino Natalicio Neves da Silva, conhecido hoje no mundo da capoeira como o Mestre Pelé da Bomba, o Gogó de Ouro da Bahia. Pelé da Bomba é hoje talvez o unico aluno ainda vivo do Mestre Bugalho, e foi através dos depoimentos do mesmo que consegui a maior parte das fontes para redigir esse texto. Bugalho junto a Waldemar, Caiçara, Traíra e alguns outros, compuseram o seleto grupo de cantadores e tocadores de berimbau nas rodas do século XX, nas ruas da velha Bahia de outrora. O Mestre Waldemar e o Mestre Bugalho foram muitas vezes fotografados por Pierre Verger, quando este ainda trabalhava na revista O Cruzeiro, na década de 40.

“Segui a tradição do meu Mestre, Bugalho, um grande tocador de berimbau. Ele era um dos melhores, tocava muito bem o São Bento Grande, principalmente quando era noite de lua. Sentávamos na areia da praia e, quando ele tocava, era possível ouvi-lo na cidade alta”
(Mestre pelé da Bomba)

Infelizmente não temos registros sobre o seu nascimento, tão pouco sobre a sua morte. Quem tiver algo a contribuir por favor fiquem a vontade.


[..] Edmundo Joaquim, conhecido por Bugalho, mestre de berimbau nas orquestras de capoeira, nome respeitado em se tratando de coisas relacionadas com a “brincadeira”.

Fontes:
Livro Natalício Neves da Silva; O Pelé da Capoeira Texto: Antônio Luíz dos Santos Campos(boa alma)

Categorias Curta-metragem / 35mm, BP, 10min 05seg, ano 1960 BR – Salvador -BA

Ano 1955 – MESTRE WALDEMAR NO CORTA BRAÇO Simone Dreyfus-Roche – Brésil Vol. 2 – Bahia Collection du Musée de l’Homme Cantor: Mestre Waldemar Bateria: Zacarias Boa Morte, Traíra, Rafael, Cobrinha Verde, Bugalho Jogadores: Cabelo Bom e Ivanir.
ENTREVISTA MESTRE WALDEMAR

HISTÓRIA

4. Mestre Waldemar

Waldemar Rodrigues da Paixão
Pais: Brasil
Cidade: Salvador
Data de Nascimento: 22-02-1916 /1990
Linhagem: Mestre Ricardo de Cais do Porto, Talabi, Siri de Mangue, Canário Pardo

Waldemar Rodrigues da Paixão (Ilha de Maré, 22 de fevereiro de 1916 – Salvador, 1990), mais conhecido como Mestre Waldemar, Waldemar da Liberdade ou Waldemar do Pero Vaz, é um mestre de Capoeira baiano.

Waldemar da Liberdade ou Waldemar do Pero Vaz, dos nomes do bairro e da rua onde implantou sua Capoeira. A fama de Waldemar como capoeirista e Mestre de Capoeira aparece nos anos 1940. Ele implanta um barracão na invasão do Corta-Braço, futuro bairro da Liberdade, onde joga-se Capoeira todos os domingos, também ensinando na Rampa do Mercado na Cidade Baixa. Fica conhecida a diversidade dos jogos que ele pratica, dos mais lentos aos mais combativos, com afirmada preferencia para os primeiros. Durante os anos 50, a Capoeira dele na Liberdade atrai acadêmicos, artistas e jornalistas. Os etnólogos Anthony Leeds em 1950 e Simone Dreyfus em 1955 gravam o som dos berimbaus. A vida de Waldemar como capoeirista e Mestre de Capoeira começa na década de 1940, onde ele implanta um barracão na invasão do Corta-Braço, futuro bairro da Liberdade, onde joga-se Capoeira todos os domingos, também ensinando na rampa do mercado na cidade baixa. Praticava uma diversidade de Capoeira, dos mais lentos aos mais combativos, com afirmada preferência para os mais lentos. Durante a década de 1950, a Capoeira dele na Liberdade atrai acadêmicos, artistas e jornalistas. Os etnólogos Anthony Leeds em 1950 e Simone Dreyfus em 1955 gravam o som dos berimbaus. O escultor Mário Cravo e o pintor Carybé, também capoeiristas, frequentam o barracão. Mais tarde, a maior parte dos renomados capoeiristas afirmam ter grande influência na Capoeira de Waldemar, na de Mestre Cobrinha Verde do bairro de Nordeste de Amaralina até na de Mestre Bimba. De acordo com Albano Marinho de Oliveira (1956), o grupo da Liberdade começou a cantar longos solos antes do jogo (hoje chamados ladainhas). O próprio Waldemar reivindicou, em depoimento a Kay Shaffer, ter inventado de pintar o berimbau. A fabricação e venda para os turistas de berimbau foi uma fonte de renda para Mestre Waldemar.
Waldemar, como bom capoeirista, andou na sombra. Ficou discreto sobre suas atividades e breve em sua fala. Mal existem fotos dele antes de velho. Não procurou a fama e, apesar de seu notado talento de cantor e de tocador de berimbau, não integrou muito o mercado de espetáculo turístico. Também, a música que se escuta nas gravações de 1950 e 1955 é coletiva, sempre tendo, ao menos, um dialogo de dois berimbaus. Assim, Jorge Amado menciona Mestre Traíra, também da Liberdade, como assíduo visitante de Waldemar.
Velho e impossibilitado de jogar Capoeira e de tocar berimbau pela doença de Parkinson, Waldemar ainda aproveitou um pouco do movimento de resgate das tradições dos anos 1980, cantando em diversas ocasiões e gravando CD com Mestre Canjiquinha.
Fonte: wikipedia.org e outras.

Mestre Waldemar foi uma das mais belas, se não a mais bela voz da Capoeira de todos os tempos! Waldemar da Liberdade, Waldemar da Paixão ou Waldemar do Pero Vaz, independente do chamado, todos iam visitar o famoso Barracão de Waldemar! Temos o prazer de mostrar, um pouco, da trajetória deste grande mestre. Mestre Waldemar dedicou a sua vida a capoeira Angola com suas cantigas e sua voz inigualável. Mestre Waldemar – A voz da Capoeira!

4.1. Mestre Waldemar, Waldemar Rodrigues da Paixão, Mestre de Capoeira baiano (Ilha de Maré, Bahia 1916 – Salvador, Bahia 1990)
Mestre Waldemar Da Paixão, da Liberdade, da Avenida Peixe, capoeirista conhecido pelos seus berimbaus coloridos e por sua voz inconfundível. Iniciou na capoeira com 20 anos de idade, em 1936, foi aluno de Canário Pardo, Periperi, Talabi, Siri de Mangue e Ricardo de Ilha de Maré. Começou a ensinar capoeira em 1940, na Estrada da Liberdade, no inicio era ao ar livre e depois passou para um barracão de palha que ele mesmo construiu. O local virou ponto de encontro dos capoeiristas baianos, e aos poucos a roda de mestre Waldemar foi se tornando muito famosa e todos os capoeiristas da Bahia iam lá jogar. No livro Bahia: imagens da terra e do povo, publicado em 1964, Odorico Tavares assim descreve uma roda de Waldemar no Domingo a tarde, no Corta Braço, na Estrada das Boiadas, destacando a qualidade do mestre como cantador: “Com os tocadores ao seu lado o mestre levanta a voz, iniciando o canto. Os jogadores, em número de dois, estão de cócoras, à sua frente. É lenta a toada que o mestre canta , como solista e já os capoeiristas acompanham-no em movimentos mais lentos ainda, como cobras que começam a mover-se: olhe o visitante atentamente, como aqueles homens nem ossos tivessem, seus membros parecem que recebem um impulso quase insensível, de dentro para fora.

(…) Os homens não se tocam para defesa e ataques que se sucedem em imprevistos de segundos. É um milagres em que a violência de um ataque resulte em outro ataque, em que ninguém se toca, ninguém se fere, ninguém se agride. É combate, é baile que dura horas.” Mestre Waldemar sempre procurou um bom convívio com todos os capoeiristas recebendo todos em seu barracão com muito respeito e também sendo muito respeitado. O seu reconhecimento com Mestre evitava conflitos provocados pelos chamados ‘valentões’. Sobre esses conflitos Waldemar nos conta:

“Barulho eu nunca tive com ninguém, porque eu sempre fui respeitado, nunca ninguém me desafiou. Se me desafiava para jogar, Mestre que aparecia aqui, a minha cabeça resolvia.(…) Me respeitavam muito os meus alunos. E não tinha barulho, porque eu olhava para eles assim, eles vinha pro pé de mim e ninguém brigava.”


O canto e o toque de berimbau não eram suas única habilidades o mestre também era um exímio jogador de capoeira. Ele relembra: “Quando eu jogava, eu dizia: toque uma angola dobrada. É um por dentro do outro, passando, armando tesoura, se arriando todo. Parece que eu tô vendo eu jogar. Eu joguei muito.(…) Eu gostava de jogar lento, pra saber o que faço. Pelo meu canto você tira. Eu canto pra qualquer um menino desse jogar, e ele jogo sem defeito. Para os meus alunos eu digo que vou cantar e eles já sabem o que eu quero: São Bento Pequeno. É o primeiro toque meu. Para o outro tocador eu digo : ‘de cima para baixo’, e ele sabe que é São Bento Grande. Para Viola eu digo: ‘repique’, e ele bota a Viola pra chorar.”
Mestre Waldemar conta que no seu tempo, e nas suas aulas a Capoeira era ensinada na roda, mas que também havia os dias de treino.

“Eles jogavam e eu fazia sinal pra fazer tesoura, fazia sinal pra chibatear, fazia sinal pro outro abaixar. “

Origem: www.capoeiranacao.org

4.2. Mestre Waldemar Rodrigues da Paixão, conhecido também como Waldemar da Liberdade ou do Pero Vaz ou ainda da Avenida Peixe. Conhecido pelos seus berimbaus coloridos e por sua voz inconfundível. Nasceu em 22 de fevereiro de 1916, na Ilha de Maré, criado em Periperi, iniciou na capoeira com 20 anos, em 1936 onde treinou por quatro anos. Não diferente de muitos mestres da capoeiragem teve vários orientadores como: Siri de Mangue (aluno de Besouro), Canário Pardo, Zé Talabi (de Periperi), Ricardo da Ilha de Maré e Besouro Gago. Começou a ensinar capoeira em 1940, por ordem dos seus mestres, na invasão do Corta-Braço, Estrada da Liberdade, na Pero Vaz. O início foi ao ar livre, perto do arvoredo, depois construiu um barracão de palha, o qual ficou mundialmente famoso. O Barracão do Mestre Waldemar, onde ele ensinava e fazia suas rodas. Grande confeccionador de berimbau, em 1942, (ano que Zacarias Boa Morte começou aprender com ele), pegou esse oficio, o qual levou até o fim de sua vinda quando não podia mais dar aulas. Dizia ser o inventor das pinturas de berimbau, pois antes só usavam berimbau com casca. E quem começou a envernizar os berimbaus. Tinha um berimbau muito bom por nome Azulão, feito com um verniz azul de sua autoria. Também foi o primeiro a tirar o arame do pneu na raça, sem queimar, pois antes o arame era arame de cerca, ou queimado, todo enferrujado.
Foi ele quem começou a fazer berimbaus para vender na feira (Água de Meninos) e inventou uma pintura especial para eles. Devido toda essa fama dos seus berimbaus, o escritor Jorge Amado, no seu Livro: Bahia de Todos os Santos. Guia de ruas e mistérios da cidade do Salvador – 1944, trás um texto falando do Mestre Waldemar e seus berimbaus.

Mestre Waldemar foi o Mestre de vários bambas que ficaram famosos no mundo da Capoeira, capoeiristas que passaram pela suas mãos, muitos que ele terminou de aprontar, como Traíra que foi ao encontro dele em 1947, Zacarias Boa Morte que começou antes em 1942, Bigodinho em 1950, Bom Cabelo, Cabelo Bom, Bugalho, Nagé, Ananias e tantos outros. Dizia que o seu tempo a capoeira era ensinada na roda, era dando sinal e os jogadores obedecendo os comandos. Dizia que o sujeito que não tocasse, não cantasse, não batesse um pandeiro, não era mestre de capoeira. Dizia que Mestre de Capoeira tinha que saber tudo! Falava que para cantar tinha que ter voz, e se não tivesse voz que colocasse um aluno no lugar dele para cantar por ele.
Usava como toques de sua bateria: São Bento Grande; São Bento Pequeno; Benguela; Ave Maria; Cavalaria; Samango; Angolinha; Gêge; Estandarte: Iuna; Angola Dobrada. Dizia que capoeirista bom não derruba outro capoeirista de mão, tinha que derrubar de cabeçada e pé. Não pode botar a mão no outro.
Em novembro de 1952, saiu uma matéria feita por Eunice Catunda, na revista Fundamentos – Revista de Cultura Moderna Ano V, nº 30, com o titulo: CAPOEIRA NO TERREIRO DE MESTRE WALDEMAR.
Em novembro de 1954, participa de um curta-metragem produzido pelo cineasta Alexandre Robatto Filho, considerado o pioneiro do cinema baiano. O vídeo, com cerca de 8 minutos, apresenta uma bela vadiação em Salvador, com alguns dos grandes capoeiras e mestres da Bahia: como Traíra, Nagé, Curió, Zacarias Boa Morte, Bimba, Crispim (filho de Bimba), Rosendo entre outros. O filme contou com a colaboração de Paulo Jatobá, Manoel Ribeiro, Silvio Robatto e do artista plástico argentino Carybé, que retratou em sua obra importantes manifestações tradicionais da Bahia, como a capoeira, o candomblé e o samba de roda. Valioso documento para a memória da capoeira e do cinema. Em 31 de outubro, 1955, foi realizado uma gravação no Barracão do Mestre Waldemar feita pela Antropóloga Simone Dreyfus-Roche.

Em 1964 construiu seu berimbau favorito, um berimbau colorido, listrado de amarelo, verde, branco e vermelho, com diversas fitas do Senhor do Bonfim: o “Ás de Ouro”. Nesse mesmo ano (1964) participou de uma entrevista e cantou varias musicas para a Antopóloga Helinä Rautavaara.
Em 1968 parou de jogar capoeira se dedicando unicamente à fabricação de berimbau, por encomenda das barracas do Mercado Modelo.
Durante todo esse tempo, o Mestre Waldemar ainda foi diversas vezes entrevistas, gravados, e mencionados em livros, artigos, jornais, por brasileiros e estrangeiros. Em setembro de 1986, gravou um disco em conjunto com Mestre Canjiquinha, com o intuito da preservação da capoeira. Cantando várias ladainhas, muitas das literaturas de cordel as quais sempre cantava nas rodas e que ficaram marcada na sua voz como a do Valente Vilela, a história de Pedro Cem, a do Riachão do Diabo e tantas outras. Em fevereiro de 1987, na Av. Peixe, Mestre Negoativo, faz uma visita ao Mestre Waldemar e o entrevista. Essa entrevista mais tarde virá um CD intitulado: Estive na Liberdade e falei com Mestre Waldemar lançado em 2007. Com um grande problema de Parkinson que o impedia de tocar o berimbau, Mestre Waldemar nos deixa no ano de 1990, seguindo o destino de vários mestres do seu tempo, na miséria. Seu enterro por interferência da comunidade capoeiristica, foi pago pelo Liceu de Artes e Ofícios por interferência de César Barbieri. Itapoan, Aristides, Eziquiel, Sena e outros capoeiristas presentes no sepultamento também se cotizaram para cobrir as despesas..
Texto: Pesquisa do Mestre @salgadocdo – @cdosergipe site: cdosergipe . wixsite . com

1955 no barracão do Mestre Waldemar– Imagens acompanhadas de músicas retiradas de discos e comentários baseados em notas enviadas pelo cinegrafista viajante; o produtor permaneceu em Paris. A música que acompanha a Capoeira foi gravada por Simone Dreyfus, em 1955, no barracão do Mestre Waldemar. Este Mestre pode ser visto nas fotos. Durante a cantoria usada como música de fundo do vídeo, os dois capoeiristas ficam normalmente agachados ao pé do berimbau na posição que os vimos no início. Waldeloir Rego escreveu em sua obra Capoeira Angola (1968), que a reputação de Waldemar da Paixão era “igual à do Mestre Bimba” na década de 1950. Nascido em 1916 na Ilha da Maré, construiu o seu barracão nos campos de Corta-Waro, que a população desmatou sem obter autorização em 1938 para construir casas de barro e palha para habitar. O barracão de Waldemar é uma grande cabana de palha sem paredes interiores. Lá ele ensina Capoeira. Todos aqueles que se sentirem bem podem vir brincar. Waldemar preferia jogos lentos, mas não impunha suas opiniões aos convidados. Ele também é famoso por seu canto. Ele fala com orgulho de suas inovações musicais: a ideia de cortar a ponta inferior do berimbau para que parecesse menos uma arma e o canto prolongado antes do jogo.

Pol Briand
Fonte: RTF- Radio Télévison Française – Coleção: Voyage sans passeport.
Mestre Waldemar da Paixão – 09 de janeiro de 1960 – Numa praia da Bahia, um grupo de capoeiristas executam a Capoeira, dança tradicional, considerada uma arte marcial. De origem africana (especificamente angolana), a Capoeira é um dos alicerces culturais de um Brasil mestiço. Um grupo musical acompanha os protagonistas. O principal instrumento utilizado é o berimbau. (texto original)

Sinopse: “Um dia na rampa do Mercado Modelo de Salvador, onde chegavam os saveiros voltando do Recôncavo Baiano trazendo produtos para o comércio na capital. Tradições da capoeira, do candomblé e outros costumes são apresentados no decorrer do filme, rodado em 1955.” (Extraído de Programadora Brasil/1955)

Cenas de Mestre Bugalho displicentemente jogando Capoeira na beira do cais, retiradas de Um dia na rampa e inseridas no filme documento do processo público de inventariado da Capoeira, constituem imagens decisivas no ganho de causa da Capoeira: patrimônio imaterial do Brasil.

Um dia na rampa (1955) é filme do tempo da rampa do Mercado Modelo de Salvador Bahia Brasil. O mercado modelo original popular, não o da atual antiga alfândega, presente mercado para turista. O mercado do tempo do filme pegou fogo numa tarde de domingo, no paralelo da hora do futebol do Vitória contra o Bahia: evidências de um crime.

Mestre Bugalho em Um dia na rampa é uma aparição fantasmagórica, a concretude de uma realidade espiritual, alma da Capoeira. A imagem de um mandacaru envernizado para cena de filme de Jean Manzon é assombração manifesta. Tudo é documento – vale o escrito –, mas cinematografia em sua essência lexicográfica pretende-se escrita da luz.

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