Na capoeira, a música desempenha um papel fundamental, não apenas para marcar o ritmo e a cadência dos jogos, mas também para contar histórias, transmitir ensinamentos e manter viva a tradição cultural. Existem vários estilos de músicas na capoeira, cada um com suas características específicas. Aqui estão alguns dos principais fundamentos da musicalidade na capoeira.
A formação da Bateria na Capoeira
A formação da bateria na capoeira é uma expressão rica da herança africana no Brasil. Cada instrumento tem suas raízes em tradições africanas e carrega consigo uma história de resistência e celebração, criando um espaço de comunhão onde os capoeiristas se conectam através da música, da dança e do jogo, mantendo viva a cultura e a história da capoeira. Em suma, a formação da bateria na capoeira é essencial para a prática e a vivência dessa arte marcial, proporcionando o ritmo, a energia e a conexão necessárias para a roda de capoeira.
A bateria na capoeira é um conjunto de instrumentos musicais que desempenham um papel fundamental na criação do ambiente rítmico e energético da roda de capoeira. Cada instrumento na bateria tem uma função específica e, juntos, eles guiam o jogo e ditam o ritmo, a intensidade e o estilo da capoeira praticada. A formação tradicional da bateria inclui o berimbau, em suas três variações: Gunga, Médio e Viola, o atabaque, o pandeiro, o agogô e o reco-reco.
Berimbau
O berimbau é o principal instrumento da capoeira e define o ritmo e a melodia da roda. Existem três tipos de berimbau:
Gunga (ou Berra-boi): É o berimbau com a cabaça maior e emite o som mais grave. Ele lidera a bateria e estabelece o ritmo base da roda.
Médio: Tem uma cabaça de tamanho médio e produz um som intermediário. Acompanha o Gunga e pode realizar variações rítmicas.
Viola: É o berimbau com a cabaça menor, emitindo o som mais agudo. O Viola é responsável por fazer improvisações e variações melódicas.
Atabaque
O atabaque é um tambor que ajuda a manter o ritmo e a energia da roda de capoeira. Ele complementa o som do berimbau e adiciona uma camada rítmica profunda e ressonante. Na capoeira, o atabaque é tocado com as mãos e pode fazer variações rítmicas para acompanhar os diferentes toques de berimbau, especialmente o berimbau Gunga, com ambos marcando o ritmo dos jogos.
O atabaque (ou tabaque) é de origem árabe, com seu nome derivado de “al-tabaq” (prato). Trata-se de um tambor cilíndrico ou ligeiramente cônico, com uma das extremidades coberta por couro de boi, veado ou bode.
No candomblé, o atabaque é considerado um objeto sagrado. Existem três tipos de atabaque: Rum, Rumpi e Lê.
Pandeiro
O pandeiro é um instrumento de percussão feito de couro de cabra e madeira. Ele é tocado com as mãos e contribui com um ritmo que complementa os outros instrumentos da bateria.
Os pandeiros mais comuns têm diâmetro de 10 polegadas (aprox. 25 cm). Existem versões com diâmetros de 10,5, 11 e 12 polegadas. Conforme o tamanho, o número de platinelas varia de 5 a 10 pares.
No Brasil, o pandeiro foi introduzido pelos portugueses, embora sua provável origem seja árabe.
Os negros adaptaram o pandeiro para seus folguedos. Este instrumento era usado para acompanhar as procissões religiosas, incluindo a primeira procissão realizada no Brasil em 13 de junho de 1549, na Bahia
Agogô
O agogô é um instrumento de metal composto por duas ou mais campânulas de tamanhos diferentes, que são tocadas com uma baqueta. Este instrumento adiciona um som metálico e melodioso à bateria, criando variações rítmicas e acentuando o ritmo da roda. Sendo um instrumento idiofônico, o agogô produz som através da vibração de seu próprio corpo. Embora existam agogôs feitos de materiais orgânicos, como cocos, os mais comuns são de metal.
O agogô (ou gã) chegou ao Brasil com os escravos africanos e era muito utilizado na música iorubá, originária da África Ocidental. Hoje, o agogô é tocado para marcar o ritmo do samba e também acompanha as rodas de capoeira, além de ser utilizado nos ritos de candomblé e outras religiões afro-brasileiras.
OS RITMOS E TOQUES DE CAPOEIRA
Os Toques de Berimbau
Os toques do berimbau são padrões rítmicos específicos que determinam o estilo, a energia e a velocidade do jogo na roda de capoeira. Cada toque tem uma função e um significado, influenciando a maneira como os capoeiristas jogam. Aqui estão alguns dos toques mais conhecidos do berimbau:
As Palmas na Roda de Capoeira
As palmas desempenham um papel importante na roda de capoeira, contribuindo significativamente para o ambiente e dinâmica do jogo. Aqui estão algumas das principais importâncias das palmas na roda da capoeira:
Marcação do Ritmo
As palmas ajudam a marcar o ritmo da música e do jogo de capoeira. Elas sincronizam os movimentos dos jogadores com os toques dos berimbaus e outros instrumentos, mantendo a cadência e fluidez da roda.
Tradição e Cultura
As palmas são uma parte integrante da tradição da capoeira, transmitida ao longo de gerações. Elas fazem parte da linguagem não verbal da capoeira, ajudando a fortalecer a identidade cultural e histórica da prática. Em suma, as palmas na roda de capoeira não são apenas um acompanhamento musical, mas um elemento crucial que promove a interação social, o ritmo e a expressão emocional, tornando a experiência da capoeira ainda mais enriquecedora e dinâmica.
Ritmo sem palmas
Na capoeira, o ritmo de São Bento Grande é conhecido por não ter acompanhamento de palmas durante sua execução. Este ritmo é caracterizado por um toque mais lento e solene dos berimbaus.
Angola
Caracteriza-se por um ritmo lento e cadenciado.
Indica um jogo mais estratégico e com movimentos próximos ao chão. É utilizado para a Capoeira Angola, que é mais tradicional e ritualística.
São Bento Grande de Angola
É um toque mais rápido e vibrante que o toque de Angola.
Utilizado para jogos mais dinâmicos e intensos, mas ainda mantendo elementos da Capoeira Angola.
São Bento Grande de Regional
Também conhecido como São Bento Grande, é um dos toques mais comuns na Capoeira Regional. Indica um jogo rápido e atlético, com muitas acrobacias e movimentos aéreos. É um toque enérgico que exige muita habilidade e agilidade dos capoeiristas.
São Bento Pequeno
Menos comum que os anteriores, é um toque intermediário que combina elementos da Capoeira Angola e Regional.
Usado para transições e variações dentro da roda.
Benguela
O toque de Benguela é um ritmo específico tocado no berimbau, geralmente associado à Capoeira Regional, desenvolvida por Mestre Bimba. Este toque é caracterizado por um ritmo intermediário, que não é tão lento quanto o toque de Angola, nem tão rápido quanto o São Bento Grande.
Iúna
Um toque elegante e melódico. Utilizado exclusivamente para jogos de mestres ou capoeiristas mais experientes. Caracterizado por movimentos graciosos e acrobáticos, sem o objetivo de derrubar o oponente.
Cavalaria
Este toque tem um ritmo marcante e de alerta. Originalmente usado para avisar os capoeiristas sobre a chegada da polícia ou de outras ameaças. Não é utilizado para jogar, mas como um sinal de aviso.
Santa Maria
Um toque menos comum, com um ritmo específico e suave. Utilizado para jogos mais tranquilos e harmônicos.
Apanha a Laranja no Chão Tico-Tico
Um toque lúdico e mais leve. Usado em jogos infantis ou para treinos que envolvem movimentos de captura ou pegadas. Esses toques são essenciais para a prática da capoeira, pois orientam os jogadores e criam a atmosfera da roda.
Os estilos de música
Toques
Não são canções, mas padrões rítmicos tocados pelos berimbaus e outros instrumentos. Cada toque tem um nome e um significado, ditando o estilo e a velocidade do jogo. Utilizados para diferentes tipos de jogo e situações dentro da roda: Angola, São Bento Grande, Cavalaria.
Ladainha
É uma forma de canto solo, geralmente cantada pelo mestre ou pelo líder da roda. As ladainhas são canções longas e narrativas que falam sobre a história da capoeira, eventos históricos, personagens importantes, ou mesmo reflexões filosóficas. São cantadas no início da roda de Capoeira Angola, servindo para abrir o evento e estabelecer o clima espiritual e cultural.
Chula (ou Louvação)
Canto de resposta onde o mestre canta uma frase e o coro responde. Normalmente incluem louvações a Deus, aos santos, aos mestres de capoeira, e a figuras históricas da capoeira. Cantadas após a ladainha, preparando os capoeiristas para o jogo.
Corrido
Canções de chamada e resposta cantadas durante o jogo de capoeira. As corridos são curtas e repetitivas, focadas em aspectos do jogo, dando instruções ou incentivando os jogadores. São cantadas continuamente durante a roda, acompanhando o ritmo dos berimbaus.
Quadras
Semelhantes aos corridos, mas com versos mais longos, geralmente quatro linhas. As quadras são usadas para narrar pequenas histórias ou mensagens relacionadas ao jogo de capoeira. Utilizadas durante o jogo para variar a musicalidade e manter a energia da roda.
Samba de Roda
Um estilo de música e dança que muitas vezes acompanha a capoeira. As letras celebram a vida, o amor e a cultura afro-brasileira. Frequentemente cantadas após a roda de capoeira, em momentos de celebração e confraternização.
Maculelê
Um tipo de música e dança com bastões ou facões, originária da mesma tradição afro-brasileira. As letras e os ritmos são energéticos, evocando histórias e lendas. Realizado em atuações especiais, separadas da roda de capoeira.
Jongo
Um estilo de música e dança africana, também conhecido como “Caxambu”. As letras e ritmos são tradicionais e comunitários, com chamadas e respostas. Utilizado em celebrações culturais, muitas vezes em comunidades de capoeiristas.
Puxada de Rede
Uma música que acompanha uma encenação de pescadores puxando a rede. Relata a vida dos pescadores e suas tradições. Apresentado em eventos culturais e shows de capoeira.
Cada um desses estilos contribui para a riqueza e a diversidade da capoeira, mantendo vivas suas raízes culturais e históricas enquanto conecta os praticantes a uma tradição vibrante e dinâmica.